quinta-feira, 8 de abril de 2010

As línguas, o afeto... a fuga

"Curious how you always revert to your native tongue in moments of extreme anger... and ecstasy."
Yuri Orlov (Nicolas Cage)
O Senhor das Armas - 2005

Por que escolhemos ser o que somos? Fazer o que fazemos? Refiro-me às profissões que escolhemos. Não fica muito claro na maior parte das vezes, e isso me faz parar pra pensar na escolha que eu mesma fiz e como isso se reflete na minha vida. No início, não entendia porque gostava de estudar inglês, eu simplesmente gostava! A primeira coisa que me atraiu nessa língua foi o som. As presenças de "s" e todos os outros sons produzidos pela boca e não pelas cordas. Daí até perceber que queria  fazer desse gostar minha profissão, foi questão de tempo.

Mas e os pontos de identificação com a paixão entre duas línguas? As curiosidades que existem nas dificuldades e facilidades que as pessoas possuem para aprender um segundo idioma? Sempre me chamou atenção a relação que a língua tem com o pensamento. E dessa forma, fica até mais fácil tentar explicar o porquê de ser fácil para uns, difícil para outros. Que relação a língua que você fala tem com a língua que você quer ou precisa aprender? A sua língua materna, ou seja, a que você aprendeu primeiro - o português é carregado de afeto.

Existe um conhecido caso clínico de histeria em que uma paciente esquece temporariamente sua língua materna e reverte sua fala para o inglês, não tendo consciência dessa reversão. Muitos casos de reversão para outra língua aparecem na literatura. James Joyce tece seu texto com vocábulos e sintaxe de várias línguas, numa tentativa de fugir  da sonoridade da língua materna.

Dessa forma pergunto: a reversão para outra língua seria uma fuga do "desprazer" da volta às suas origens? Bloqueios como esses, ou aquela má recepção da segunda língua que muitas pessoas possuem, devem-se às questões de afeto, que provocam prazer e/ou desprazer, sensações que lembram a sonoridade da língua materna?

De fato, a língua que falamos, o português, é muito carregada de afeto, e é quase impossível pensar em qualquer aquisição de outra língua sem que essa seja marcada pela nossa língua de afeto.

Eu mesma me surpreendo com a quantidade de vezes que vejo a língua estrangeira expulsando a materna dos meus pensamentos, só pra esboçar vontades e anceios que ainda não ressoam compreensíveis... Daí a fuga...