domingo, 29 de maio de 2011


 
Fernando Pessoa

Quando olho para mim não me percebo.
Tenho tanto a mania de sentir
Que me extravio às vezes ao sair
Das próprias sensações que eu recebo.

O ar que respiro, este licor que bebo,
Pertencem ao meu modo de existir,
E eu nunca sei como hei de concluir
As sensações que a meu pesar concebo.

Nem nunca, propriamente reparei,
Se na verdade sinto o que sinto. Eu
Serei tal qual pareço em mim? Serei

Tal qual me julgo verdadeiramente?
Mesmo ante as sensações sou um pouco ateu,
Nem sei bem se sou eu quem em mim sente.


domingo, 1 de maio de 2011

A muralha da China. Digo, do afeto...


Trabalho com adolescentes. Mas isso não quer dizer que eu entenda muito a respeito deles. Sobretudo a respeito daquela fase terrível de comportamento que quase todos eles passam. Ficam revoltados, arredios, se fecham, emburram com facilidade, não se encontram, não sabem o que querem, enfim, aquela fase difícil pela qual todos nós já passamos. Uma fase de confusão no que sentimos e no que queremos.

E estes dias, pensando nessa fase do comportamento, me lembrei de um detalhe que me chamou atenção quando eu estava nessa idade e nessa fase. Foi algo que minha mãe costumava dizer ao se queixar do fardo que minha adolescência foi pra ela. Dizia assim: “Pra mim, você é duas pessoas completamente diferentes. Com os teus amigos você é educada, carinhosa, engraçada, comunicativa, interessada e aplicada. Quando vem pra casa é completamente o oposto. Fica calada, não quer saber de conversa, é grossa e muitas vezes mal educada!”

É claro que como se tratava da adolescência eu pouco me importava em justificar essa contrariedade no meu comportamento. E nem poderia! Eu não entendia porque me comportava daquela maneira. Na verdade eu nem queria saber – minha mãe é que era uma chata que só pegava no meu pé (bem justificativa de adolescente, né?).

O fato é que somente agora me interessei por entender mais a respeito disso tudo. E me parece tudo muito claro. Esse entendimento me ajuda muito a compreender e conviver melhor com os meus alunos. Mas esse texto não é para descrever o comportamento-adolescente. E sim para refletir o quanto existem adultos que ainda se comportam dessa maneira – agindo de uma forma na presença de algumas pessoas; e de outra completamente diferente na presença de outras. O que poderia explicar esse comportamento? O que reteve da adolescência? O que há em comum e que permaneceu na vida adulta?

Dá para traçar um paralelo aqui com uma conversa que estava tendo outro dia com um professor meu. Ele estava dizendo o quanto nos revelamos, nos despimos na intimidade. Por exemplo – existem registros na adolescência de algumas pessoas, que as acompanham na vida adulta - broncas, defeitos e fraquezas expostas, rebaixamentos ao pedir coisas e favores, entre outros episódios que causaram chateação. É como se quiséssemos manter uma proteção, construir uma muralha que nos proteja de demonstrar o que temos por dentro de tão oculto e com o qual não sabíamos e ainda não sabemos lidar. É como se as pessoas que fazem parte mais íntima de nossa convivência possuíssem óculos de raio-x para aquilo que realmente somos. Fazemos um esforço danado para esconder, mantendo aquela pose de sério, de poucos amigos e pouca conversa, mas parece não adiantar – eles, os familiares ou os que tem esse contato afetivo mais íntimo e inicial, nos conhecem despidos, como somos, ou como eles se acham no direito de achar e julgar.

Afinal, não há como estabelecer relações de afeto que não demonstrem abertamente quem você é. O problema ocorre justamente quando você não quer ou não sabe lidar com aquilo que lhe é mais íntimo. São nesses momentos que chega a ocorrer até comportamentos arredios – de grosseria, de falta de interesse, de apatia com o outro. O que é bem típico dos adolescentes, e infelizmente de alguns adultos que ainda não se olharam. Como quem diz: “ah, não vou olhar pra dentro não! Quem dirá deixar os outros vejam! Vai que só tem coisas feias ali?!”

Penso que o fato de não se conhecer internamente é que cria esse medo, essa insegurança da abertura e que reflete na proteção, nesse murinho enorme em volta de si. E quando estamos na presença de nossos preciosos amigos, só nos ocupando de sermos engraçados e interessantes, sem a necessidade de demonstrações de afeto, não corremos o risco de expor o que está lá dentro. 
 
Você é Egoísta ou Egocêntrico?...
Texto editado a partir do texto de Fabrício Mota



O tema é polêmico -  egoísmo e egocentrismo.
O egoísmo consiste no hábito ou na atitude de uma pessoa colocar seus interesses, opiniões, desejos ou necessidades em primeiro lugar, em detrimento (ou não) do ambiente e das demais pessoas com que se relaciona. O egocentrismo, por sua vez, caracteriza-se pela fantasia de imaginar que o mundo gira em torno de si, tomando o "eu" como referência para todas as relações e fatos. Uma pessoa egoísta pode não ser egocêntrica, uma vez que luta para fazer com que os fatos se amoldem a seus interesses (grifem esta frase). A pessoa egocêntrica é egoísta, no sentido de que não consegue imaginar que não seja ela a prioridade no mundo em que vive.

Independente da idade mental do indivíduo em questão, o que venho intencionado em dizer é que, ser egoísta pode ser bom, enquanto ser egocêntrico é quase sempre ruim.

Se a gente olhar ao nosso redor, encontraremos uma grande massa, praticamente maioria, composta por egoístas e egocêntricos, que não podem e nem devem ser misturados no mesmo bolo! Voltemos à frase grifada. Ela diz praticamente tudo.

A diferença essencial entre um egoísta e um egocêntrico não está no fato dos seus interesses, opiniões, desejos, necessidades estarem em primeiro lugar, até porque ambos, igualmente, assim o desejam. A diferença está, na verdade, em quem é (ou quem deveria ser) o responsável por fazer com que tão desejadas circunstâncias aconteçam. No caso do egoísta, é ele quem realiza os seus atos em prol de si mesmo, em detrimento ou não dos outros. No caso do egocêntrico, ele espera que o mundo é que realize estes atos.

Agora aproveito o gancho pra retomar a assertiva de que ser egoísta não é necessariamente ruim: Primeiro, porque um ato egoísta não necessariamente provoca detrimento nos direitos dos outros. Ele apenas o é por ter como único objetivo o favor a si mesmo. E aí a gente tem que tomar cuidado com os nossos preconceitos - ter o cuidado com o peso negativo que atribuímos à palavra "egoísmo". Segundo, porque um ato egoísta, muitas vezes, simboliza ou manifesta amor próprio ou auto-afirmação da parte de quem o promove. E isto, como tenho acompanhado nos meus anos de vivência, é algo que, em boa parte das vezes, consciente ou inconscientemente, provoca apreço nas demais pessoas. Ou seja: nós, os que condenamos o egoísmo, somos os mesmos que valorizam os egoístas!

Isso pode parecer loucura, mas avalie você mesmo, nos seus círculos sociais, e em seguida tire suas próprias conclusões: pessoas de apreço pelos demais conviventes costumam ser, de alguma forma, egoístas. Isto não quer dizer que elas provoquem prejuízo aos demais, mas sim que elas promovam a sua auto-valorização.

Bom: agora vamos à parte chata da estória: os egocêntricos. Estes, sim, são uma raça por vezes desagradável. Assim eles o são porque, não bastasse desejar tanto os benefícios do mundo para si mesmos, mas eles ainda esperam que as outras pessoas façam isto por ela. Veja a sutil diferença: uma coisa é você desejar algo, e transformar o seu desejo em realidade. Outra coisa é você exigir que as demais pessoas façam isso por você...

Não é à toa - e você pode comprovar isso pelos seus círculos sociais também - que os adultos egocêntricos tendem a ser as menos respeitados, menos desejados, ou menos amados. Muitas vezes, ironicamente, ao contrário do egoísta! Avalie você, aquela pessoa que você conhece, com quem você não se sente tão confortável de conviver: vê se ela não tem alguma coisa de egocêntrico?

Não é nada fácil separar por conceito o que é um puramente egoísta de um puramente egocêntrico, visto que em alguns aspectos os comportamentos se confundem. Mas eis que encontrei um ponto de crivo que me parece adequado:
O egocêntrico é aquele que tende a estar insatisfeito quando aquilo que ele espera que o outro faça para ele não foi feito. O egoísta, ao contrário, simplesmente vai lá e faz.

"Perto de você me calo, tudo penso e nada falo"