quarta-feira, 29 de setembro de 2010

Algo pra se preocupar...


Pensamento preocupante pouco antes antes da soneca da tarde de hoje: "Me parece que hoje as pessoas crêem que o fim do mundo é uma realidade muito mais tangível do que o fim do capitalismo!"

domingo, 26 de setembro de 2010

“Sejamos preguiçosos em tudo, exceto em amar e em beber, exceto em sermos preguiçosos” Lessing

Sim, o título é uma citação! Achei que não poderia ser melhor...

Faz dias que estou tentando sentar aqui para escrever minhas últimas observações a respeito de trabalho, mas também faz dias que meu próprio trabalho me impede! Bom, é muita informação, mas vou tentar manter uma linha temporal dos recentes acontecimentos que me trouxeram (até que enfim) a poder escrever o tal texto.

Tenho a impressão que as coisas acontecem da seguinte maneira comigo: quando um assunto merece ser discutido, uma quantia considerável de acontecimentos a respeito dele passa a vir na minha direção como uma chuva de granizo. Atinge minha cabeça, fazendo as idéias se movimentarem, me põe a pensar a respeito e enfim a concluir e digerir as idéias. Os tais acontecimentos, em síntese foram:

Há algum tempo eu passei por um imenso questionamento do papel que desempenho no meu trabalho e a satisfação que isso me trás ou não. E daí que senti uma vontade imensa de mandar tudo pros ares e ver no que dava. Mas como ser humano com sua parcela de insegurança que sou, não me atrevi, porém não abandonei a vontade, e tentei montar para ela um plano B de sobrevivência, por assim dizer. Concluindo rapidamente e previsivelmente, continuo onde estava antes do grande questionamento, ou seja, ainda sou professora e não executei o plano B. Porém, achei que me ajudaria muito passar a fazer coisas que me trouxessem única e exclusivamente prazer, coisas que eu sempre quis estudar, como outra língua e aulas de canto. E não é que deu certo? Muito bom saber que estou estudando uma coisa não em vistas do que isso pode me render futuramente, mas só pelo prazer de fazê-lo e nada mais. Mas eis que esbarrei num detalhe que ferrou tudo! Era sexta feira, hora do almoço, eu engolindo o rango pra voltar ao trabalho. Tinha acabado de voltar da aula de canto e pensei: “Puts! Que droga! Eu daria tudo pra ficar aqui em casa, só praticando os vocalizes que aprendi, porque isso me dá uma satisfação que não tem nada a ver com os lucros que vou ter através das horas trabalhadas de hoje!” Ou seja, o trabalho é incompatível com a vida livre! Deixando mais claro ainda: defendo mesmo o ócio, mas que é diferente da preguiça. No ócio, encontramos a virtude, qualidade relacionada à prática. Pensando lá na Antiguidade, não deveríamos mesmo ser artesãos, mercadantes ou camponeses, pois não resta dessa forma, tempo para atividades políticas, filosóficas e artísticas. Tô com Aristóteles: “exaltar a inércia mais do que a ação não corresponde à verdade, porque a felicidade é atividade.”

Continuando a enumerar os acontecimentos. - Ele vem pra cá e apresenta no tom da voz um estresse agudo! Treme, gagueja, tropeça nas palavras, fica inquieto, isso quando consegue comparecer à aula. Esse meu aluno faz parte de uma grande empresa, ou seja, está há muito tempo no mundo corporativo. Há alguns dias, começamos a falar a respeito de suas funções do dia-a-dia. Ele detalha-me aspectos de seu trabalho que vão me deixando cada vez mais absurdada. Diz que mal tem horário de almoço, pois geralmente come à frente de uma vídeo-conferência com seu chefe que está em outra cidade, que não raro, tem hora pra começar a trabalhar, mas não pra terminar, que muitas vezes leva projetos que precisam ser terminados para casa. Minha indignação crescente passa a questioná-lo: “Quando foi que as pessoas perderam a capacidade de dizer não? Quando foi que as pessoas deixaram de perceber que não se deve aceitar esse tipo de imposição no trabalho, porque tudo que elas trazem é mais trabalho, apenas!?” E nossa conversa vai seguindo a pontos cada vez mais avassaladores (pelo menos pra mim, porque eu era a única pasma ali), pois ele passa a descrever que um membro de sua equipe que pense e haja dessa maneira (que diga não), está mais do que justificadamente demitido. Diz ainda que há em seu meio de trabalho uma necessidade de funcionários que consigam trabalhar sobre pressão, que sacrifiquem seus horários sem reclamar. E eu indignada, quase aos berros digo – “Mas em troca de quê?” E ele na maior naturalidade: “Em troca de bonificações altas, que se convertem para toda equipe que se esforçou!”. Gente, eu acho que ele ainda não entendeu e então pergunto de novo: “Em troca de quê!?” Sim, porque bonificações não satisfazem minha pergunta! O que está havendo? Se eu entendi bem, ele e outras muitas pessoas por aí, entendem como qualidade, a capacidade que os funcionários têm de se anularem em suas funções! Porque as pessoas se engajam com tanta energia no trabalho? É porque em troca da contribuição que oferecem à organização do trabalho, à empresa ou à sociedade como um todo, elas esperam uma retribuição. Obviamente, essa retribuição é em primeiro lugar material – o salário, como o próprio aluno disse. Mas será que ele pensa além disso? Pois a retribuição não é meramente material, há também uma dimensão simbólica. O que as pessoas esperam em troca de seu engajamento e de seu sofrimento é uma retribuição moral – o reconhecimento. Fica parecendo que apenas quando obtenho o reconhecimento da utilidade e da qualidade do meu trabalho é que tenho a satisfação intensa da minha relação com o trabalho. O reconhecimento do trabalho é o que permite transformar o sofrimento em prazer. E é essa transferência que julgo perigosa, pois vai causando uma espécie de acomodamento de nossa parte, como li há poucos dias (outro capítulo da série de eventos que me pôs a escrever a respeito) no blog de um proclamador do desemprego como forma plenamente possível de vida – Sem pensar e com o piloto automático ligado, segui na rodovia do conforto, em velocidade constante. Inércia. Inação. Engraçado pensar que conforto e acomodação às vezes parecem indistinguíveis.” Quantas vezes você já pensou nisso? E se pensou, se incomodou a respeito?... Recomendo que você termine este texto e vá visitar este blog pra entender melhor do que eu estou falando: http://blog.aurelio.net/2010/09/23/estou-ha-5-anos-desempregado-viva/

Há um número crescente de pessoas defendendo essa idéia de “funcionários qualificados a meros escravos e meros números dentro do sistema capitalista”. Outro dia, eu mesma fui repreendida por expressar uma pontinha do que penso a respeito disso – Meu irmão me liga após eu ter me dado férias de mais de quinze dias fora da minha cidade pra saber se eu não tinha decidido sair de casa de vez, e eu no maior bom humor digo pra ele – “Puxa vida, voltei pra realidade, tenho que trabalhar, né? Por que é que não podemos só curtir a vida? Porque pra curtir tem que trabalhar? Não me parece uma troca justa!” Uau! Tomei uma resposta muito mal humorada! Como se o que eu tivesse dito fosse de uma heresia sem tamanho! Ora, ele sendo bem mais velho que eu, me fez relembrar como somos ensinados a respeito do valor do trabalho desde crianças com a historinha da formiga e da cigarra. Aquilo não passa de uma forma de ensinar os pequeninos sobre a moral cristã – a dedicação profissional dignifica o homem! O trabalho é a garantia da salvação, é uma oferta divina. Incerta de seu destino, a formiga (o fiel) busca incessantemente, o trabalho e o lucro.

É essa massa crescente que defende que “é assim mesmo, gente, não tem jeito!” que me irrita. Olha só, pessoal, acho que vocês estão distorcendo as coisas ao condenarem de maneira tão dura o ócio. Criticam e criam para poderem justificar-se termos e pessoas, tais como – é o progresso que assim demanda, ou ainda – é do agrado de Deus que se esforcem para merecem o seu reino! Ora, mas não foi esse mesmo Deus que nos deu um grande exemplo de preguiça? – após seis dias de trabalho, repousou!

O trabalho tem sim, uma valoração relativa que está ligada ao que produzimos a nós mesmos! Uma satisfação pessoal! O ócio por sua vez, é uma ocasião de realização do homem, criador e livre. Então será o trabalho o único modo justo e digno de prover a sobrevivência? Será o modo principal de dar sentido à vida? Será o único ou o melhor meio de alguém se fazer reconhecer como cidadão e pessoa de bem? Existem coisas que devem ser mais valorizadas. Mas os conceitos opostos estão enraizados demais nas pessoas. São conceitos que cegam para a realidade de que o homem trabalhador é mais do que seu trabalho. Conceitos que deixam os ouvidos abertos somente aos gritos que repetem: Trabalhem para aumentar a fortuna social, e travem dessa maneira as nobres paixões do homem!

O que você tem visto? O que você tem escutado por aí?...