Não que
não tenha surgido nada que tenha me feito refletir nesses últimos meses.
Surgiram e não foram poucas, mas estamos mesmo onde escolhemos estar e hoje
escolhi estar aqui...
“A cada dia que vivo,
mais me
convenço de que
o desperdício da vida está no amor que não damos,
nas forças que não usamos,
na prudência egoísta que nada arrisca
e que, esquivando-nos do sofrimento,
perdemos também a felicidade.”
Carlos Drummond de Andrade
Da Demasia
Humana - Das Coisas que eu não Faria...
Ontem um dejà vu me botou a refletir e
consequentemente a escrever a respeito. Eu já havia ouvido de algumas pessoas
frases do tipo “eu jamais faria isso que você fez” diante dos meus
relatos de experiências vividas. Em particular essas experiências se tratavam
dos longos anos que se passam ao lado de uma única e exclusiva pessoa e em
outra experiência, às totais e conscientes anulações que nos causamos para
viver uma história.
Ora, o tal “eu jamais faria isso” sempre me
produziu uma espécie de – sou diferente de você, uma versão melhorada, portanto
não faria isso que você fez. É um comentário confuso... Faz parecer que o que
eu fiz foi errado, pouco inteligente, desperdício, algo de ruim, enfim. E
claro, por consequência, faz parecer a autora dos atos – eu, um ser de decisões
e atos inferiores aos olhos dos donos do enfadado comentário.
Eu já sabia disso, mas o dejà vu reforçou minha
conclusão. Pra todas essas pessoas que tenham feito ou ainda possam fazer tal
comentário a respeito da vida que vivi, eu tenho a mesma pergunta: “Como
você pode saber??” Como pode saber que não ficaria todos esses mesmos ou
mais anos ao lado daquela pessoa?... Como pode saber que desistiria, que
mataria dentro de si tudo aquilo que sabe que é certo, só pra poder viver
aquela história fadada ao fracasso só mais um pouquinho, na esperança de que
desse tudo certo? A resposta, meu caro, é sempre a mesma. Um belo e sonoro: “Você
não sabe!”... Não sabe, porque não viveu essas histórias, essas histórias não
são suas!
Só há uma maneira de levantar o duvidoso troféu do “eu
não faria isso” – Viva a história. E as notícias não são tão vitoriosas
assim – porque ainda que o faça, não quer dizer que esteja livre de nunca mais
repetir esse ou aquele ato.
Mas por outro lado, suas conclusões diante das
experiências alheias, talvez tornem-se bem menos generalizadoras.
É, meu caro... Somos
todos demasiadamente humanos. Nossa demasia está em tantos lugares, e aqui ela
reside justamente na fórmula que tantos de nós gostamos de verbalizar: a
fórmula não+ia é um tanto perigosa... Porque ela te surpreende!
Mas... Eu torço, de verdade, para que sempre se
surpreenda! Pra que sempre se permita fazer aquilo que tantos não fariam...