segunda-feira, 30 de setembro de 2013


“How can you expect a person who was raised on a desert to swim like a fish?”
Elizabeth Bishop

Sabedoria é algo que não necessariamente nasce da mesma fonte. Ela brota dos lugares mais inusitados e se combina às mais diferentes possibilidades. Essa citação acima, por exemplo, da considerada uma das poetisas americanas mais importantes do século XX veio de encontro direto com uma das personagens mais conhecidas do brasileiríssimo Jorge Amado – Gabriela! É dela que vem aquela síndrome tão conhecida por nós, a Síndrome de Gabriela, já ouviu falar?... Bom, resume-se em “eu nasci assim, eu cresci assim...” E assim, supomos que os cidadãos que possuem a Síndrome de Gabriela também morrerão assim. Pelo simples e lamentável fato de não acharem possível, ou simplesmente não terem o menor desejo de mudança.

Existem coisas que se colocam como um impedimento para mudar: porque representam uma desconfiguração por vezes muito grande de nossas personalidades e claro, isso assusta! Mudar significa aventurar-se por terrenos desconhecidos. Corajosos são os que se propõem a pisar lá. Digo corajosos, porque sempre haverá quem diante da citação acima diga que não é necessário se tornar um peixe para ser aceito, ou gostado. Com toda certeza, mas o famoso “quem tiver que gostar de mim, vai ter que gostar como eu sou” cria uma zona de conforto enorme e por vezes perigosa. Faz com que nos sintamos à vontade para permanecermos para todo o sempre do jeito que somos. Eu não tenho pretensão nenhuma de me tornar um peixe. Não sou um, não me daria bem como um. Mas penso que as habilidades de um peixe acrescentariam tanto na minha vida de quem foi criada no deserto. Não quero para o resto da vida ter habilidades de sobrevivência que só servem para as regiões secas e sem água... Você nunca sabe o que ai encontrar por aí!

Há um programa na TV chamado “Magros versus Obesos”. É estereotipado e exagerado, mas quando vi, me propôs uma grande reflexão. Nele os participantes sofrem uma mudança chocante nos seus hábitos alimentares ruins para avaliarem se isso os faz repensar como comem e vivem. A moça de braços finos que até parecem que vão quebrar precisa comer no café da manhã porções de presunto com ovos e bacon, aquelas rosquinhas enormes e açucaradas, acompanhadas de refrigerante. E aquele cara trajando roupas que parecem terem sido feitas sob medida de tão grandes, tem que se contentar com um prato branco e grande coberto apenas de três vagens, um ovo de codorna e um frango grelhado pálido. O que eu me pergunto se os dois participantes sentiram, além da extrema dificuldade em comer o que lhe foi apresentado é o quanto era difícil para o outro comer o que eu facilmente comeria. Nenhuma das duas dietas é ideal, mas a combinação das duas poderia ajudar os dois lados.


O grande e humano prazer de aprender com o outro. De pensar fora dos nossos limites para concluir que o que é fácil para nós pode representar um grande desafio para o outro e vice versa. Mas que os benefícios para quem se aventura são tão engrandecedores, que todos fariam se soubessem disso. Tomariam formato em seus corpos que fariam seus interiores mais felizes. E a gente sabe - quem é feliz por dentro, reflete por fora. E claro, isso não deve ser porque foi dormir e acordou todos os dias iguais. Somos produto da transformação e que bom que isso se dá em contato um com os outros.
Não mostrar no feed de notícias
                
Algumas vezes, rolando meu feed de notícias no Facebook, eu excluo a atualização de várias pessoas. Os motivos são diversos: fotos de maus tratos a animais ou velhinhos e crianças; posicionamentos preconceituosos; machismos; ataques de carência; indiretas pra ex-namorado; fotos dignas de book de modelo seguidas de frases filosóficas que dizem “não sou só o rosto e o corpo, tá pessoal! Eu também tenho cérebro!”; provocações de times de futebol... Nossa! A lista é infindável. Tanto, que muitas vezes começo a checar as novidades no Face, elas quase não aparecem e eu penso: Uau, como eu tiro atualizações!

Agora a pouco eu fui fazer uma exclusão e me lembrei de quem não compartilha desse pensamento. A justificativa é “gostar de saber como as pessoas com quem me relaciono pensam, e por isso não excluo nada, vejo tudo, leio tudo, mesmo achando muitas coisas postadas uma bobagem”.

Bom, comigo é mais imediato: postou porcaria uma vez, tá fora! Não preciso ver porcaria diariamente para querer saber como neguinho pensa. Uma ou duas pérolas já me bastam! É, não afeta muita gente, mas afeta a mim!

Eu acho que sou precipitada em muitos julgamentos e isso pesa na minha decisão de exclusão. É muito parecido quando eu não gosto de uma pessoa – tenha ela me feito ou não algum mal! Se fez então, aí a guerra tá declarada, mesmo que muitas vezes, (senão todas) burramente é uma guerra que eu travo sozinha. Se eu fosse ditadora, Pinochet e Hitler ficariam no chinelo! Quando eu tenho raiva de alguém, quero que o mundo inteiro me dê razão e tenha raiva comigo! Não suporto que me venham com discurso do tipo “mas tente ver o outro lado, o lado da outra pessoa que te fez isso!”... Não quero ver lado nenhum! A pessoa me machucou! É como um desejo de apedrejamento em praça pública, tamanha a raiva!

Sabe qual a parte mais angustiante disso?... É saber a criaturinha inferior que eu me torno por pensar assim. Esse não é um texto que pretende demonstrar através dos fatos como eu tenho razão. É um texto que expõe através dos mesmos fatos, o quanto eu ainda preciso ignorar certas coisas, aprender e subir uns degrauzinhos na escada evolutiva.

Sabe aquela coisa do “Desencana disso! Dane-se que a pessoa tenha te feito isso ou pense mal de você! Simplesmente a exclua da sua vida e siga em frente”... Eu queria lá no fundo desencanar mesmo e não me importar. É como se eu quisesse ter a oportunidade de perguntar pra pessoa “o que foi que eu te fiz pra você me tratar assim?” Que fique bem claro que não é um desejo de vingança, é um desejo de retratação mesmo. Do mesmo jeito que tenho vontade de no Facebook escrever um inbox: “Por favor, caro ser humano, me diga que não é verdade que você realmente está de acordo com isso que acaba de postar! Cê tava brincando, né?”

Muitas vezes eu prefiro não saber o que certas pessoas falaram de mim por aí e quando alguém vem me contar eu pergunto: falou mal de mim?... Então não quero saber, por favor! É um comportamento parecido como não querer que isso ou aquilo apareça no meu feed. Eu super aumento as minhas reações de raiva e simplesmente não consigo só lamentar que certas pessoas sejam tão imbecis, pensem de maneira tão igualmente imbecil e saiam impunes sem que ninguém lhes pergunte “Por queeee?”...

Não que minha forma de pensar, exposta nesse texto seja um exemplo a ser seguido. Nem de longe! Talvez seja tão insano quanto tudo que eu julgo e não compreendo. Mas, essa sou eu, me despindo e admitindo o desconforto e o mal estar que me causam sentir-se dessa forma. Eu desejo que certos fatos não cheguem através de meus ouvidos a serem publicados no muro de noticiários da minha alma. Talvez esse seja um indício dela me pedindo: “Não pendura nada aqui, que você ainda não tem condições de assimilar certas coisas. Você é dona de uma cabecinha muito confusa! Milhares de palavrinhas espalhadas e que quando tentam se juntar em fala, não explicam nada e confundem todo mundo”.

Eu excluo as pessoas lá do feed (seja do Face ou da alma) e não excluo o que de mais importante tem: o sentimento com relação ao que elas fazem.

Hunf! Medo de mim!