domingo, 27 de março de 2011

O primeiro, que saudades!




"Saudades de algo, de um estado, de uma forma de existência que se deixou de ter; desejo de voltar ao passado." (dicionário Houaiss)

Gosto de passar filmes para os meus alunos! Acredito na importância que o cinema, a imagem, o som, a criatividade têm na constituição da língua que se está estudando. Para os alunos iniciantes, gosto de passar animações, pois a linguagem (algumas vezes) é mais fácil e acessível. E é claro que ao escolher os que vou passar, predomina também um pouco do meu gosto pessoal.
Acontece que me surpreendi há um tempo – eu havia assumido, muito egoistamente a postura de que todas as pessoas gostam de animações e que seria um sucesso total passar uma para os alunos, mesmo os adultos. Acontece que uma aluna, não se fazendo de rogada, disparou – “Ihhhh, eu não gosto de desenho!” Como eu havia de fato assumido que o mundo todo gosta, eu achei que não teria nem argumento para tentar convencê-la de que ela iria gostar, se divertir e de quebra aprender muito com aquele momento. Então resolvi apelar para minha memória afetiva do filme escolhido. E foi mais ou menos assim:
O filme que escolhi era o primeiro Toy Story, de 1995. Foi um filme que marcou a história das animações, pois foi o primeiro totalmente produzido por computadores. Isso por si só, como diríamos em inglês – “That’s something!”, ou seja – Já é algo pra se considerar, já é um detalhe de peso! Mas esta animação não poderia apenas convencer por este detalhe, ela tinha que ser uma soma de fatores de sucesso. Veja, naquela época eu estava com 11 anos de idade e não entendendo nada (não que agora eu entenda muito) de animções feitas pelo computador, fiquei imensamente impressionada com o cuidado tomado com o desenvolvimento, tema, personagens e trama.
Pra mim, era impressionante que alguém tivesse colocado naquela tela gigante (eu fui à estreia) uma ideia que pra mim era muito ingênua, muito íntima, tão íntima quanto absurda, portanto eu não ousava dividir com ninguém – meus brinquedos têm uma vida à parte quando eu não estou por perto, eles ganham vida quando ninguém está olhando! – Que idéia fantástica, eu pensava! Eu não conseguia, como até hoje não consigo, perder a capacidade de me impressionar com a criatividade dos idealizadores. Que criança nunca pensou isso, que criança nunca teve tanto afeto pelos seus brinquedos, que os personificava e os tomava como parte de sua família? Há vários sentimentos como este no filme – o medo que um cachorro estrague (leia-se na linguagem infantil – machuque) os brinquedos; ou ainda aquelas crianças que conhecemos que tinham prazer em destruir e quebrar os seus pertences – Tá tudo ali, todo o universo criança-e-seu-brinquedo retratado nessa obra que vai muito além do cuidado tomado com o trabalho de animação em si.
E quando eu achava que parava por aí, mais coisas se somaram: houve continuação quatro anos depois. Desta vez, fomos recordados de mais um sentimento de criança – mas será que se eu brincar mais com este brinquedo novo, os velhos não vão se sentir rejeitados? Resposta: Sim, vão! O Woody que o diga. (rs!). Sem contar é claro, o desafio imposto à uma continuação. Mais uma vez, tirou de letra e ganhou o público fã de animações.
Agora encerro meu texto, certo? - Não! Por que todos sabem, que recentemente a Pixar lançou o terceiro Toy Story, desta vez trazendo o seguinte tema – o dilema de Andy, o dono dos brinquedos – “sou um cara crescido, estou indo pra faculdade e é hora de romper uma fase da vida e me desfazer dos meus brinquedos”. O tempo passa, as crianças envelhecem. Os brinquedos também. Os interesses mudam, mas a memória fica. Poderia permanecer congelado, repetindo aventuras sem considerar o momento dos envolvidos. Seria lucrativo, mas não o faria especial.
Há filmes de animação aos pacotes hoje, todos sabem, mas pra mim Toy Story sempre vai ser especial, não porque iniciou uma fase, mas porque ele faz com que seja inevitável relembrar dos momentos felizes. Tem um final sensível, impressionante.
E a aluna que não gostava de "desenhos"? Bom, posso dizer que hoje trocamos várias conversas e indicações sobre animações!

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