segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Pra viajar no som....




Queria escrever algo sobre a canção "Lentes de Contato" da cantora sergipana, Patricia Polayne. Queria também que não ficasse impresso neste algo nada muito pessoal. Pra isto bastava eu dizer que voltei hoje do meu trabalho na bicicleta velha de guerra, o vento batendo e eu com aquela velha sensação de satisfação de catarse que a arte é capaz de me causar... Mas pôxa, não teria jeito! Como é que ela sabia que  "eu grito, explico e ninguém ouve - eu quero encontrar alguém, quero beijar uma alma, quero acordar sorrindo, quero o que me falta"?
...

quarta-feira, 29 de setembro de 2010

Algo pra se preocupar...


Pensamento preocupante pouco antes antes da soneca da tarde de hoje: "Me parece que hoje as pessoas crêem que o fim do mundo é uma realidade muito mais tangível do que o fim do capitalismo!"

domingo, 26 de setembro de 2010

“Sejamos preguiçosos em tudo, exceto em amar e em beber, exceto em sermos preguiçosos” Lessing

Sim, o título é uma citação! Achei que não poderia ser melhor...

Faz dias que estou tentando sentar aqui para escrever minhas últimas observações a respeito de trabalho, mas também faz dias que meu próprio trabalho me impede! Bom, é muita informação, mas vou tentar manter uma linha temporal dos recentes acontecimentos que me trouxeram (até que enfim) a poder escrever o tal texto.

Tenho a impressão que as coisas acontecem da seguinte maneira comigo: quando um assunto merece ser discutido, uma quantia considerável de acontecimentos a respeito dele passa a vir na minha direção como uma chuva de granizo. Atinge minha cabeça, fazendo as idéias se movimentarem, me põe a pensar a respeito e enfim a concluir e digerir as idéias. Os tais acontecimentos, em síntese foram:

Há algum tempo eu passei por um imenso questionamento do papel que desempenho no meu trabalho e a satisfação que isso me trás ou não. E daí que senti uma vontade imensa de mandar tudo pros ares e ver no que dava. Mas como ser humano com sua parcela de insegurança que sou, não me atrevi, porém não abandonei a vontade, e tentei montar para ela um plano B de sobrevivência, por assim dizer. Concluindo rapidamente e previsivelmente, continuo onde estava antes do grande questionamento, ou seja, ainda sou professora e não executei o plano B. Porém, achei que me ajudaria muito passar a fazer coisas que me trouxessem única e exclusivamente prazer, coisas que eu sempre quis estudar, como outra língua e aulas de canto. E não é que deu certo? Muito bom saber que estou estudando uma coisa não em vistas do que isso pode me render futuramente, mas só pelo prazer de fazê-lo e nada mais. Mas eis que esbarrei num detalhe que ferrou tudo! Era sexta feira, hora do almoço, eu engolindo o rango pra voltar ao trabalho. Tinha acabado de voltar da aula de canto e pensei: “Puts! Que droga! Eu daria tudo pra ficar aqui em casa, só praticando os vocalizes que aprendi, porque isso me dá uma satisfação que não tem nada a ver com os lucros que vou ter através das horas trabalhadas de hoje!” Ou seja, o trabalho é incompatível com a vida livre! Deixando mais claro ainda: defendo mesmo o ócio, mas que é diferente da preguiça. No ócio, encontramos a virtude, qualidade relacionada à prática. Pensando lá na Antiguidade, não deveríamos mesmo ser artesãos, mercadantes ou camponeses, pois não resta dessa forma, tempo para atividades políticas, filosóficas e artísticas. Tô com Aristóteles: “exaltar a inércia mais do que a ação não corresponde à verdade, porque a felicidade é atividade.”

Continuando a enumerar os acontecimentos. - Ele vem pra cá e apresenta no tom da voz um estresse agudo! Treme, gagueja, tropeça nas palavras, fica inquieto, isso quando consegue comparecer à aula. Esse meu aluno faz parte de uma grande empresa, ou seja, está há muito tempo no mundo corporativo. Há alguns dias, começamos a falar a respeito de suas funções do dia-a-dia. Ele detalha-me aspectos de seu trabalho que vão me deixando cada vez mais absurdada. Diz que mal tem horário de almoço, pois geralmente come à frente de uma vídeo-conferência com seu chefe que está em outra cidade, que não raro, tem hora pra começar a trabalhar, mas não pra terminar, que muitas vezes leva projetos que precisam ser terminados para casa. Minha indignação crescente passa a questioná-lo: “Quando foi que as pessoas perderam a capacidade de dizer não? Quando foi que as pessoas deixaram de perceber que não se deve aceitar esse tipo de imposição no trabalho, porque tudo que elas trazem é mais trabalho, apenas!?” E nossa conversa vai seguindo a pontos cada vez mais avassaladores (pelo menos pra mim, porque eu era a única pasma ali), pois ele passa a descrever que um membro de sua equipe que pense e haja dessa maneira (que diga não), está mais do que justificadamente demitido. Diz ainda que há em seu meio de trabalho uma necessidade de funcionários que consigam trabalhar sobre pressão, que sacrifiquem seus horários sem reclamar. E eu indignada, quase aos berros digo – “Mas em troca de quê?” E ele na maior naturalidade: “Em troca de bonificações altas, que se convertem para toda equipe que se esforçou!”. Gente, eu acho que ele ainda não entendeu e então pergunto de novo: “Em troca de quê!?” Sim, porque bonificações não satisfazem minha pergunta! O que está havendo? Se eu entendi bem, ele e outras muitas pessoas por aí, entendem como qualidade, a capacidade que os funcionários têm de se anularem em suas funções! Porque as pessoas se engajam com tanta energia no trabalho? É porque em troca da contribuição que oferecem à organização do trabalho, à empresa ou à sociedade como um todo, elas esperam uma retribuição. Obviamente, essa retribuição é em primeiro lugar material – o salário, como o próprio aluno disse. Mas será que ele pensa além disso? Pois a retribuição não é meramente material, há também uma dimensão simbólica. O que as pessoas esperam em troca de seu engajamento e de seu sofrimento é uma retribuição moral – o reconhecimento. Fica parecendo que apenas quando obtenho o reconhecimento da utilidade e da qualidade do meu trabalho é que tenho a satisfação intensa da minha relação com o trabalho. O reconhecimento do trabalho é o que permite transformar o sofrimento em prazer. E é essa transferência que julgo perigosa, pois vai causando uma espécie de acomodamento de nossa parte, como li há poucos dias (outro capítulo da série de eventos que me pôs a escrever a respeito) no blog de um proclamador do desemprego como forma plenamente possível de vida – Sem pensar e com o piloto automático ligado, segui na rodovia do conforto, em velocidade constante. Inércia. Inação. Engraçado pensar que conforto e acomodação às vezes parecem indistinguíveis.” Quantas vezes você já pensou nisso? E se pensou, se incomodou a respeito?... Recomendo que você termine este texto e vá visitar este blog pra entender melhor do que eu estou falando: http://blog.aurelio.net/2010/09/23/estou-ha-5-anos-desempregado-viva/

Há um número crescente de pessoas defendendo essa idéia de “funcionários qualificados a meros escravos e meros números dentro do sistema capitalista”. Outro dia, eu mesma fui repreendida por expressar uma pontinha do que penso a respeito disso – Meu irmão me liga após eu ter me dado férias de mais de quinze dias fora da minha cidade pra saber se eu não tinha decidido sair de casa de vez, e eu no maior bom humor digo pra ele – “Puxa vida, voltei pra realidade, tenho que trabalhar, né? Por que é que não podemos só curtir a vida? Porque pra curtir tem que trabalhar? Não me parece uma troca justa!” Uau! Tomei uma resposta muito mal humorada! Como se o que eu tivesse dito fosse de uma heresia sem tamanho! Ora, ele sendo bem mais velho que eu, me fez relembrar como somos ensinados a respeito do valor do trabalho desde crianças com a historinha da formiga e da cigarra. Aquilo não passa de uma forma de ensinar os pequeninos sobre a moral cristã – a dedicação profissional dignifica o homem! O trabalho é a garantia da salvação, é uma oferta divina. Incerta de seu destino, a formiga (o fiel) busca incessantemente, o trabalho e o lucro.

É essa massa crescente que defende que “é assim mesmo, gente, não tem jeito!” que me irrita. Olha só, pessoal, acho que vocês estão distorcendo as coisas ao condenarem de maneira tão dura o ócio. Criticam e criam para poderem justificar-se termos e pessoas, tais como – é o progresso que assim demanda, ou ainda – é do agrado de Deus que se esforcem para merecem o seu reino! Ora, mas não foi esse mesmo Deus que nos deu um grande exemplo de preguiça? – após seis dias de trabalho, repousou!

O trabalho tem sim, uma valoração relativa que está ligada ao que produzimos a nós mesmos! Uma satisfação pessoal! O ócio por sua vez, é uma ocasião de realização do homem, criador e livre. Então será o trabalho o único modo justo e digno de prover a sobrevivência? Será o modo principal de dar sentido à vida? Será o único ou o melhor meio de alguém se fazer reconhecer como cidadão e pessoa de bem? Existem coisas que devem ser mais valorizadas. Mas os conceitos opostos estão enraizados demais nas pessoas. São conceitos que cegam para a realidade de que o homem trabalhador é mais do que seu trabalho. Conceitos que deixam os ouvidos abertos somente aos gritos que repetem: Trabalhem para aumentar a fortuna social, e travem dessa maneira as nobres paixões do homem!

O que você tem visto? O que você tem escutado por aí?...

domingo, 22 de agosto de 2010

A todos aqueles que (e foram por ele tocados) assistiram....


Respondendo e agradecendo a indicação que recebi...

Ri muito, ri alto com a história do americano esperando o metrô e que no contato visual se vê no meio da história do casal do lado oposto...

Os mímicos dispensa comentários, que coisa mais sem igual! Pensei tantas coisas....

Me vi compartilhando uma certa tristeza na distância que a mãe percorre pra deixar o filho, atravessar a cidade pra trabalhar, cantar uma musiquinha de ninar na língua dela, um choque cultural, sei lá! E falando nele, a voz triste e rouca do negro cantando pra enfermeira... Lindo, lindo!

A morte sendo representada por um cawboy, puts que ideia!

"-Do you hear me?...
-No, I see you!"
Sempre gostei da Natalie Portman

Os efeitos que dispensam falas na história da vampira, um comic book em movimento....

Até o Oscar Wilde, com toda a excentricidade que é só dele, apareceu! Ele que significou tanto, me fazia pesquisar tanto sobre ele quando eu comecei a gostar dos sons do inglês.... Confesso que quando vi a mocinha na frente do túmulo dele, e ele em si ali na cadeirinha, pensei -"Ah não! Isso é muito pessoal, isso é muito um pedacinho das coisas que eu gosto e que fazem parte de mim"... E ver o noivo dela não entendendo e não compartilhando da sensação foi mais significativo ainda... Quase ninguém compartilha das coisas que eu gosto. E dá mesmo vontade de fazer o que ela fez, sair de perto de toda essa gente que não compreende e nem tá aí para o que ele também não entendia, e ela explicou com uma única palavra "apreço!”.

Mas a história que mais me chamou atenção, e que não por acaso me surpreendeu hoje de manhã quando fui procurar a trilha pra baixar (porque eu adorei, me deu aquela velha sensação conhecida de ser transportada pra um lugar através da música, além daquelas paisagens lindíssimas) foi a que trouxe essa fala: "e de tanto se comportar como apaixonado, ele se apaixonou por ela de novo"

Como diz um amigo meu, "um filme muito gente", quando ele se refere ao fato de o filme ser puramente humano, e é como a última personagem fala, "triste, mas feliz!" Valeu por indicar (mais uma vez!)

Recortes... (com muitas reticências)



Dia desses, conversávamos sobre o quando não há envolvimento. Quando não se envolvem, fazem recortes... Recortam e ficam somente com aquilo que é mais bonito...

“Você metade gente e metade cavalo. Durante o fim do ano cruza o planetário. Cavalga elegância, cabeça em pé de guerra mansa. Nas mãos arco e flecha. Meu coração aguarda e acompanha seu itinerário.”
”Você jamais me perguntou de onde eu venho e pra onde vou. De onde eu venho não importa, já passou. O que importa é saber pra onde vou. O que eu tenho é quase nada, mas tenho o sol como amigo. Traz o que é seu e vem morar comigo. Aqui é pequeno mas dá pra nós dois. E se for preciso a gente aumenta depois. Tem um violão que é pra noites de lua, vem morar comigo....”
“De você sei quase nada, pra onde vai, ou porque veio. Nem mesmo sei qual é a parte da sua estrada no meu caminho. De nós dois não sei mais nada.”
“Você é um avião e eu sou um edifício, eu sou um abrigo e você é um míssil, eu sou a mata e você é a moto-serra. Você é o fósforo e eu sou o pavio. Você é um torpedo e eu sou um navio. Você é o trem e eu sou o trilho. Eu sou o fogo e você é a gasolina.”
“Eu conheço todo jeito, todo o vício, sem te tocar. Choro indo, choro vindo. Conheço o fascínio, alto de altar. Desconheço a certeza que lhe fez exagerar. Lavrador ou semideus, queima de amor, seja como for, tema de amor... Meu amor...”
“Se tudo passa, como se explica o amor que fica nessa parada? Amor que chega sem dar aviso, não é preciso saber mais nada.”
“... É bem do jeito que eu gosto...”

Acho que estou começando a me interessar pelas partes que vão além dos recortes....

A razão do meu afeto


O amor de verdade não é ideal, porque é de verdade.
Não está nos finais felizes dos filmes. É o amor da vida real, desafiado pelo ritmo veloz do nosso tempo. O amor de verdade está vivo, em movimento, é o amor cultivado por nossos gestos, do jeito de cada um.
Qual é o gesto que coloca o seu amor em movimento?
(...)
Gestos que colocam o amor em movimento...
O amor de todos os dias
O amor da vida real, imperfeito, por que é de verdade, cultivado com gestos, do jeito de cada um.
Qual o gesto que coloca o seu amor em movimento?
Natura – Bem estar bem. Propaganda “Amó” 2010.
            As pessoas gostam de palpitar, não?... O que mais tenho ouvido ultimamente é: “eu no seu lugar não conseguiria estabelecer, manter, ter algo assim, tão distante!”
            Me pergunto bastante – qual é a distância com a qual essas pessoas não saberiam lidar? A distância física?... Creio que sim! Também não sei se posso chamar isso de maturidade, mas tendo passado tantos anos numa relação onde a presença física era constante, imposta e até sufocante, acho que adquiri, não uma aversão à necessidade da presença do outro, mas um entendimento mais claro da necessidade que se tem disso e do papel que ela, a presença, determina nas relações.
Acho a vida tão cheia de tantas outras coisas – a correria e loucura do trabalho, das coisas que estudamos e aprendemos, os pequenos prazeres dos filmes que assistimos, das músicas que ouvimos, das conversas que temos com os amigos, com os pais, que não consigo me imaginar atribuindo à outra pessoa a única razão do meu afeto (não que ela não tenha lá o seu lugarzinho cativo). Acho que é aí que mora a saúde das saudades que sinto!
            Há muitas coisas que dão muito certo, justamente por serem assim – distantes. Mas entendo também que isso depende muito dos envolvidos. Não criticando os que assim se estabelecem, mas acho que não sou do tipo que aprecia um anseio conflitante de todo santo dia estar com aquela pessoa. A minha “saúde de relacionamento” não pode ser medida pela quantidade de vezes que fico com quem eu gosto, e sim pelo que ocorre quando isso acontece e também pelos espaços que existem entre um encontro e outro (e que grandes e longos espaços) – são os gestos!
            Tá bom, que abri esse texto com citação da campanha da Natura desse ano que faz largo uso da palavra “amor”. Ta, admito também que ainda sou meio caretinha pra colocar essa palavra no meu vocabulário e não raro, desconfio e me assusto com ela. Mas é que achei tão significativa essa propaganda!
            Queria mesmo dizer pra essa fila de gente que não entende meus atos - Olha só, gente... Eu sou tão humana quanto vocês e assim sendo, tenho sim minhas fraquezas e as admito todas, como por exemplo – é claro que eu sinto saudades, que tenho rompantes de sair correndo só pra ganhar um beijo, um abraço e tudo que vem depois (ai, ai, ai!), mas cheguei à conclusão que a manutenção da minha felicidade, da minha satisfação é pouca, barata e simples.
            Não faço exigências (detesto). Daquelas que impõe que saudável mesmo é morar pertinho, ser vizinho se possível e ir um à casa do outro religiosamente! Ora! Muita pretensão supor que as pessoas que gostamos devem estar sempre ao alcance de uma ligação – olha o tamanho desse mundo, pra começo de conversa! Tem coisas simples que me abrem sorrisos e os sustentam por dias seguidos – são os tais gestos... E os gestos são de tantos tipos, mas não podem (pelo menos pra mim) serem daqueles que são ditos o tempo todo, toda hora. Tem gente aos pacotes por aí que fala coisas lindas só pra cumprir uma espécie de protocolo dos relacionamentos. Como se houvesse um livro de regras a seguir. Se não sente, não fala, pôxa! Mas muito me pergunto – e aqueles que até sentem, sabem disso, mas não dão demonstrações? Por menorzinha que seja? O que será que acontece? Será que serão talvez, injustamente para sempre tachados daqueles “que estão apenas curtindo”? Será? Será que é tão simples assim?
Só sei que gestos têm que ser únicos, daqueles que tem significado só entre os dois. E eu só queria terminar isso aqui com um, que pra mim é super significativo:
“E quando eu estiver fogo, suavemente se encaixe!”

For the times, they are changing...



Quando cheguei algo muito estranho aconteceu... Abri a porta do quarto e tomei um susto! Tudo era novo, tudo era diferente pra mim! Após duas semanas longe daquele lugar que era tão familiar, estava tudo exatamente onde deveria estar e da mesma forma que deixei, então como poderia isso ser estranho? O quarto não mudou! O que mudou então, o que havia de novo e de diferente ali? - Meus olhos, meus olhos é que estavam bem diferentes, foi o que constatei.
Observei bem o que mais chamava a atenção da estranheza do meu olhar e às coisas com as quais havia me desacostumado – há uma cama, ou seja, quando me levanto pela manhã ou as várias vezes durante a madrugada, sem sono, eu me sento, e não me agacho como no colchão de poucos dias atrás. Na cama, há vários travesseiros, com os quais me acostumei e cheguei mesmo a pensar que sem os quais eu dormiria mal... tsc, tsc.... Há também uma mesa de computador com uma cadeira confortável, na qual eu me sento, com postura ereta para fazer o de sempre – preparar e corrigir aulas, falar com meus amigos, ler e responder meus e-mails e a descoberta mais fantástica e recente – excluir todos os sites de relacionamentos que eu tinha. De repente me pareceram tão vazios e sem propósito, que os excluí imediatamente... E que alívio ao fazê-lo! Que boa a sensação de perceber que não faz sentido nenhum possuir algo que expõe tuas fotos, teus gostos, tuas escolhas para os outros e que não diz nada a você mesmo.... Há ainda, lugares para todas as minhas coisas – prateleiras para meus livros, armários para os meus sapatos, guarda roupa e gavetas para minhas roupas e acessórios. E quanto de tudo isso há! Sinto falta da época em que comprava qualquer coisa, por que de fato precisava dela. Como um novo par de tênis, por exemplo... Só os comprava, porque os que eu tinha rasgaram. Agora tenho tantos pares de tantas coisas que eu nem precisava, mas ainda assim adiquiri! Senti que quase tudo que havia ali era desnecessário e que além disso, me faziam sentir presa e necessitada de tudo aquilo. Me senti até mal no meio de todos aqueles supérfluos e muito me perguntei se eu sobreviveria sem tudo aquilo... E de verdade, eu quis novamente tentar – tentar estar em lugares onde tudo aquilo que me parece familiar não está comigo e tem que ser adaptado ou substituído por coisas e também atitudes mais simples. Pude ver o quanto nada daquilo me fez falta e dessa forma, também percebi a única coisa que me fez uma certa “falta” e que me botou pra pensar nestes dias.
Eu ouvi algo há um tempo que ainda não está completamente digerido, por assim dizer. Não porque tenha sido dito de forma complicada, na verdade foi bem direto e claro. Eu é que ainda me demoro a entender o real significado que isso tem pra mim. Bom, a única coisa que me causou estranhamento por não estar mais ali, que me fez dizer “puxa, mas onde está isso?” foi minha cachorra, que morreu três dias antes de eu partir. E foi exatamente essa falta que me lembrou o dito que me põe agora a pensar.
(A fala em si, caro leitor não é para estar aqui, reproduzida ao pé da letra. E é sim, porque não quero dividi-la com ninguém! Quero apenas escrever sobre, produzir um desabafo, por achar sim, que sou um pouco mais que apenas um recorte daquilo que se vê)
Estou vendo uma espécie de processo contrário acontecer comigo. Não que eu de repente tenha desgostado de cães, eu ainda gosto! Mas gosto também de muitas outras coisas, não é um único e limitado gostar. Vejo que eu também achei por muito tempo, que iria eternamente gostar de todos eles, incondicionalmente, me limitando assim às tais explicações-clichês que todos dão – “cachorros são amáveis, carinhosos, presentes, fiéis, obedientes e sobretudo, não promovem falhas de comunicação”. Mas vejo que não foram tais explicações que me fizeram incorporar tanto esse universo à minha vida. Vejo que foi porque havia nela uma personalidade que me fazia feliz e que não se encontra tão facilmente em seres da mesma espécie. Engraçado, como tudo na vida é assim, até pra criaturas tão previsíveis como os cães...
(...)" e não critiquem aquilo que não podem entender, pois os tempos estão mudando..."

quarta-feira, 7 de julho de 2010

Tô meio "Hilda"

Tenho deixado as janelas fechadas ultimamente. Tenho permanecido no escuro. Tenho mudado minha caligrafia, anda apressada, torta, desigual, quase irreconhecível mesmo para mim que sempre fiz questão de mantê-la milimétricamente perfeita, quase invejável. Tenho mudado meus vícios de perfeição e metodologia e abraçado o desejo de não arrumar nada, não alinhar nada, não planejar nada, não botar nada no lugar. Promovendo mudanças na pessoa e não no ambiente. E tudo nele me tem destoado, tudo! Tenho tentado configurar um outro ambiente, dentro de um já existente. Tentando mudar as paredes de uma casa que está imutavelmente pronta...

As pessoas também têm se configurado ao meu redor, mas isso ainda me causa dúvidas. Algumas vezes me vejo nelas e outras, simplesmente não entendo o motivos para tamanhas diferenças. Passam agora a falar uma língua que não entendo, ou teria sido eu é que mudei minhas palavras e minha forma de traduzir o que dizem? As pessoas todas ao meu redor sempre tiveram o mesmo discurso e eu não notei?...

Os lugares para onde vamos, ou estamos dizem muito daquilo que somos, não é? E é pensamento comum à maior parte das pessoas, que, escolhemos ficar onde estamos ou ainda, nos mudamos para outros lugares, porque somos seres em busca da felicidade. Talvez para uma minoria, estranhamente haja a necessidade de afirmar que este mesmo desejo demudança não está baseado na busca da felicidade – e aí me incluo! Ah não! Acho que os meus anseios ainda não podem ser assim classificados, num patamar tão alto, batizado por muitos de felicidade. Acho que é muito mais pelo desejo demudança pela mudança e todo o aprendizado que é agregado à ela. Afinal, será possível aprender certas coisas no ambiente em que nos encontramos? Assim como uma nova língua – aprendemos em sua plenitude sem experiênciá-la em suas origens? Não chegará o momento em que o lugar, as funções e até mesmo as pessoas esgotam suas possibilidades de aprendizagem?

...

Dia desses fui atropelada por uma lembrança. Quando eu tinha quinze anos, acompanhei a minissérie “Hilda Furacão” na Rede Globo. Essa lembrança foi tomando corpo na mesa de um bar, conversando com um amigo. Me lembrei do quanto aquela história chamou minha atenção. Mas que engraçado! Na época eu nem imaginava que o que chama nossa atenção em diferentes idades, passa a não ter importância nenhuma em outras. E aquilo que passou despercebido, passa a ter mais foco. Naquele ano, por exemplo, o que chocou as pessoas era o escandaloso envolvimento entre um padre e uma prostituta.

Enfim, que o que naquele dia, lá no bar, me chamou a atenção foi o movimento da personagem Hilda. A pessoa simplesmente tinha tudo prontoconcluído, preparado, fixo, sólido, estável (outra coisa que mudou, já que não os tenho mais na minha lista de sinônimos úteis e positivos) e de repente, decide que nada daquilo é o que deseja, foge no dia de seu casamento, ainda vestida de noiva e vai parar num prostíbulo. De onde afirma a um repórter, que acompanha sua intrigante história, que sabe exatamente o dia em que partirá dali. Pois então, passados cinco anos, faz as malas e some no mundo.

Me ressoa muito como algo que ouvi há uns dias de um recém chegado à minha cidade – “quis partir, deixar tudo pra trás, incluindo a mim mesmo. E estranhamente vi que quem eu imaginava ter deixado lá naquele lugar, me acompanhava na verdade, pois não estava pronto, acabado, mas estava ainda em construção, em acabamento.”

E aí que dia desses, ele dá uma mudança total de ambiente, que vai além dessas janelas fechadas, além desses falares estranhos, para depois fazer as malas e sumir no mundo tudo de novo...

quinta-feira, 8 de abril de 2010

As línguas, o afeto... a fuga

"Curious how you always revert to your native tongue in moments of extreme anger... and ecstasy."
Yuri Orlov (Nicolas Cage)
O Senhor das Armas - 2005

Por que escolhemos ser o que somos? Fazer o que fazemos? Refiro-me às profissões que escolhemos. Não fica muito claro na maior parte das vezes, e isso me faz parar pra pensar na escolha que eu mesma fiz e como isso se reflete na minha vida. No início, não entendia porque gostava de estudar inglês, eu simplesmente gostava! A primeira coisa que me atraiu nessa língua foi o som. As presenças de "s" e todos os outros sons produzidos pela boca e não pelas cordas. Daí até perceber que queria  fazer desse gostar minha profissão, foi questão de tempo.

Mas e os pontos de identificação com a paixão entre duas línguas? As curiosidades que existem nas dificuldades e facilidades que as pessoas possuem para aprender um segundo idioma? Sempre me chamou atenção a relação que a língua tem com o pensamento. E dessa forma, fica até mais fácil tentar explicar o porquê de ser fácil para uns, difícil para outros. Que relação a língua que você fala tem com a língua que você quer ou precisa aprender? A sua língua materna, ou seja, a que você aprendeu primeiro - o português é carregado de afeto.

Existe um conhecido caso clínico de histeria em que uma paciente esquece temporariamente sua língua materna e reverte sua fala para o inglês, não tendo consciência dessa reversão. Muitos casos de reversão para outra língua aparecem na literatura. James Joyce tece seu texto com vocábulos e sintaxe de várias línguas, numa tentativa de fugir  da sonoridade da língua materna.

Dessa forma pergunto: a reversão para outra língua seria uma fuga do "desprazer" da volta às suas origens? Bloqueios como esses, ou aquela má recepção da segunda língua que muitas pessoas possuem, devem-se às questões de afeto, que provocam prazer e/ou desprazer, sensações que lembram a sonoridade da língua materna?

De fato, a língua que falamos, o português, é muito carregada de afeto, e é quase impossível pensar em qualquer aquisição de outra língua sem que essa seja marcada pela nossa língua de afeto.

Eu mesma me surpreendo com a quantidade de vezes que vejo a língua estrangeira expulsando a materna dos meus pensamentos, só pra esboçar vontades e anceios que ainda não ressoam compreensíveis... Daí a fuga...