sábado, 24 de dezembro de 2011


“Você não sabe a sorte que tem por ser um macaco. Porque a consciência é uma maldição terrível. Eu penso, eu sinto, eu sofro”.
Craig Schwarts – “Being John Malkovic”

“Sei que esse filé não existe, que a Matrix manipula meu cérebro enviando sinais elétricos e me diz que sabor ele tem. Mas quer saber? A ignorância é uma benção”.
Cypher – “The Matrix”


As Aventuras de Petit Foucault – Parte II
Vivendo as Bênçãos da Ignorância e da Falta de Consciência

            Dia desses Petit Foucault se viu pensativa. O que não era novidade alguma. O que a incomodava na verdade não eram as inquietações em si, mas o por que tinha que sempre parar, pensar e analisar tanto! Parecia estar cansada de ter um cérebro. Sentiu uma vontade profunda de que sua cabeça fosse acoplada ao pescoço por um mecanismo de rosca e que todas as vezes que momentos como esse acontecessem, pudesse simplesmente desrosquear, colocar aquela cabeça pensante bem distante e descansar!

            Permitindo-se ter pensamentos viajantes, mas também reconhecendo a impossibilidade da maioria de seus desejos, recorreu ao que sabia fazer de melhor e que em certa medida lhe produzia um aquietamento – analisar, questionar, investigar... Analisou que estes momentos de inquietação, produziam antes de mais nada uma certa tristeza. Um pesar pelas coisas serem como são, por sentir como sente. E se perguntou se todas as pessoas sentiam assim também. Passou a desenhar exemplos daqueles que eram mais próximos e não demorou muito, percebeu que a maioria das pessoas a sua volta lhe pareciam felizes e satisfeitas com o que tinham, com o que eram e não desejavam muito mais da vida.

            Levada pelos passos quase fatais da “maioria vence”, chegou a supor que então ela é quem deveria estar errada e que muito provavelmente era ela a grande vilã da história! Claro! – Só reclama, só questiona, só blasfema! Que pessoa mais inconveniente!

Porém, não sendo ela dada a momentos que são constituídos apenas de lamúrias, logo viu um fecho de luz naquilo tudo. Não que quisesse demonstrar ser a pessoa mais acrescida de conteúdos, mas tinha plena consciência de que muito daquele incômodo era formado pelas coisas que sabia e que as outras pessoas não. Pra que ficasse mais simples, seria como John Lennon dizendo: “a ignorância é uma espécie de benção, se você não sabe, não há dor”.

Petit começou a admitir que talvez pensar, enlouqueça! E há tempos essa questão debate no trapézio de seus pensamentos. Pensou que talvez ignorar todas as engrenagens que movem as sujeiras desse mundo seja a condição imprescindível para ser feliz, e que o ideal talvez seja ser alienado. E já que considerou o mundo dos alienados um mundo abençoado, concluiu que talvez não passe mesmo de uma amaldiçoada.

E há fontes quentíssimas que comprovam: “Porque no acúmulo de sabedoria, acumula-se tristeza, e quem aumenta a ciência, aumenta a dor”. (Eclesiastes 1, 18)

Continua...

2 comentários:

  1. Cara Petit,

    Imagino eu que se as pessoas da Alienolândia lessem, diriam: "Tadinha, tá fazendo uso de tóxicos!", "Tão novinha e já precisa de Prozac!"

    E como diria Shakespeare: "A política está acima da conciência."

    Por isso há tantos agentes duplos no nosso meio, es decir, jogo no A e no B, porque o que me importa é estar bem com todos e receber muitos elogios ou ter muitos "amigos" lambendo meu saco, pq, afinal de contas eu tenho uma piscina na minha casa.

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  2. Cara Pimienta,

    A cada dia sinto, que há muito mais figuras para se temer além do nosso conhecido e tão comentado Papai Noel...

    Obrigada pela visita e pelos comentários precisos!

    Beijo!

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